No dia 1º de novembro a revista Kerrang! lançou um especial, após o show Linkin Park & Amigos Celebram a Vida em Honra a Chester Bennington que aconteceu no Hollywood Bowl em Los Angeles no dia 27 de outubro.

Este especial é composto por 12 páginas dedicadas a Chester e ao show, incluindo um tributo exclusivo do Mike Shinoda, entrevistas com vários convidados que participaram do evento e fotos exclusivas da noite.

Oli Sykes, M. Shadows, Jeremy McKinnon, Jonathan Davis, Machine Gun Kelly, Daron Malakian e mais compartilharam com a Kerrang! as suas próprias histórias sobre Chester.

Ao longo das próximas semanas estaremos trazendo pra vocês a tradução na íntegra da revista. Fiquem atentos ao nosso site e as nossas redes sociais para acompanhar. Hoje trazemos a primeira parte, uma entrevista de 3 páginas concedida por Mike:

Chester Bennington foi muitas coisas para muitas pessoas diferentes. E foi uma coisa em comum para todas elas: especial. Para comemorar o show em celebração à vida da última semana, a Kerrang! foi a Los Angeles para prestar o respeito, e falar com os convidados do evento, mas primeiramente, o parceiro de banda pelo Linkin Park e irmão, Mike Shinoda, lembra do seu amigo…

Eu sabia que Chester Bennington iria mudar a minha vida no momento que ele abriu a boca para cantar.
 
“Eu havia começado a banda com o meu amigo do ensino médio, Mark, mas ser o vocalista principal não estava em seu DNA. Então nós saímos procurando por um. Quando nós agendamos com alguns caras para fazer uns testes. Chester entrou. Ele foi super amigável, como você pode imaginar. Ele pesava uns 40kg e estava usando uns óculos pequenos e retangulares, ele estava sensivelmente embaraçado. Ele estava meio encurvado e silencioso. Mas Chester foi tão bem naquele dia, o cara que estava esperando após ele simplesmente foi embora. Ele sabia.
 
“Mesmo tendo enviado as nossas músicas para o Chester antecipadamente, ele admitiu para mim que nunca havia gritado em uma música antes. Aquilo foi um choque para mim. Ele podia fazer aquilo melhor do que qualquer um que eu já tinha ouvido. Quando começamos a trabalhar juntos, ele cantava músicas, escrevíamos novas coisas, mas as vezes ele caia em uma imitação de outros cantores. Eu dizia a ele, “Cara, você parece um pouco como Dave Gahan [do Depeche Mode] aqui, ou Perry Farrell [do Jane’s Addiction], ou Scott Weiland [do Stone Temple Pilots].’ Houve alguns momentos realmente especiais no meu apartamento onde nós decidimos encontrar a voz dele.
 
Chester poderia cantar muito docemente – nós poderíamos trabalhar com isso – e no curso daqueles meses houve esse processo de exploração. Geralmente era somente eu e ele, sentados no meu apartamento, escrevendo coisas e fazendo ele cantar no microfone. Eu gravava ele e depois dava um feedback. Ele estava descobrindo como usar o seu instrumento e o que era bom para ele. Eu não sabia nessa época, mas eu estava produzindo.
 
“Em tempos onde isso tem se tornado cada vez menos comum, Chester foi um líder do rock. Eu acho que um dos motivos que fazia ele tão especial é que ele dava as pessoas grandes performances sem sentir egoísta, do jeito que você vê as vezes quando a pessoa cruza a linha da projeção e faz uma grande performance. Mas quando Chester fazia, parecia que era tudo para os fãs. Estando ele barulhento ou quieto, ele demandava nossa atenção, mas ele fazia isso de um jeito que era sincero e convidativo.
 
“Era engraçado, porque ele era um cara que quando você ia elogiar a sua voz, especialmente recentemente, ele desviava o olhar. Ele negava, ou ele fazia um comentário auto depreciativo. Enquanto uma parte dele realmente gostava de ser o centro das atenções, outra parte fugia disso. Essa era parte da beleza de Chester. E ele foi inspirado por uma vasta gama de cantores em diferentes momentos de sua vida, pessoas como Dave Gahan, James Hetfield [do Metallica], e Freddie Mercury [do Queen]. Eu ocasionalmente o lembrava que ele estava nessa categoria, mas ele nunca concordou comigo. Ele nunca reconheceu que ele era, mas nos últimos meses dezenas de artistas foram a público ou em privado para nos falar da inspiração que Chester e a banda foram. Nós somos muito gratos.
 
“Enquanto a voz de Chester fez dele um grande cantor, havia também a sua vontade de dar o melhor de si. Ossos quebrados não podiam fazer ele parar. Você não conseguia impedir ele. Eu lembro de uma vez em um show em 2007, ele bateu o pulso no começo da set. Nós falamos ao público o que havia acontecido e fomos para trás do palco para descobrir o que fazer a seguir. “Okay, vá ao hospital Chester, o show acabou.”
 
“Foda-se isso.” ele disse. “Você está brincando? Daqui a duas horas meu pulso estará tão quebrado quanto está agora. Eu posso muito bem terminar o show.”
 
“Ele terminou, e essa não foi a única vez que isso aconteceu. Chester se machucava aqui e ali, mas não importava o que fosse – ele ainda terminava o show. Ele quebrou o tornozelo e ainda fez o show. Nunca impediu ele de entregar uma excelente performance. Quando as pessoas falam “O show deve continuar,” Chester abraçou de coração isso como um mantra.
 
“A sua lealdade influenciou e inspirou a mim também. Chester sempre me deu suporte. No album mais recente, One More Light, teve momentos que eu perguntei se eu poderia assumir o vocal principal, como em Invisible, ou em Rebellion no [2014] The Hunting Party. Chester sempre foi o meu maior apoiador. Se alguém estivesse inseguro, ou sugerisse que Chester deveria cantar, ele discutia. Eu apreciava tanto isso. Não era muito comum eu querer cantar, mas ele era mais proponente [em isso acontecer] do que eu era.
 
“A sua lealdade estava lá desde o começo. Quando nós estavamos gravando o nosso primeiro álbum [2000] Hybrid Theory, nós éramos basicamente uma banda nova com um novo contrato. A gravadora poderia ter nos arquivado a qualquer momento, e quando estávamos na metade das nossas gravações o nosso A&R (Artistas e Repertório) começou a perder a fé em nós. Ele chamou o Chester de lado e falou que ele deveria assumir a banda, ou me colocar no teclado, ou até mesmo me chutar fora da banda. Ele disse ao Chester ‘Você é o talento, vocês deveriam fazer um disco de rock. Você não precisa do rap, você não precisa do resto dos caras…’ Chester terminou a conversa e veio nos contar.
 
“Então, o que você disse?” Eu perguntei,
 
“Eu mandei ele se ferrar” respondeu Chester.
 
“Muitas pessoas teriam ficado tentadas! Nós não tínhamos nada. Nós tínhamos um acordo que se baseava inteiramente se o nosso A&R iria ou não gostar do álbum que estávamos fazendo e ele apenas disse ao cara para ir se ferrar. Nós poderíamos falar por horas sobre as histórias de fazer esse álbum, momentos de incerteza, ou como as coisas poderiam ter dado errado, ou foram errado. Hybrid Theory é provavelmente desse jeito porque havia muito em jogo. Mas o motivo que se tornou o que é, o que acabamos gravando e lançando é que todos tínhamos uma visão para ele e nós não nos vendemos.
 
“Chester tinha tantas qualidades e fazia amigos com tanta facilidade. Ele nunca falaria isso dele mesmo – ele na verdade achava que ele era mais estranho do que ele realmente era, e quando nós conhecemos ele estava muito estranho. Mas em certo momento ele não era mais daquele jeito, apesar dele ainda pensar que ele era a criança estranha. Chester tinha essa energia que era quente e convidativa, e em alguns casos mais intensa do que as outras pessoas. Ele podia sair de um voo de uma hora entre Phoenix e LA e ter feito um novo amigo.
 
“Nós frequentemente conversávamos sobre pegar uma onda do que for que estivesse acontecendo em nossas vidas, e como as vezes isso nos leva a próxima coisa que nos queremos fazer, ou a próxima música que queremos escrever; uma ideia de alguma coisa criativa que quiséssemos tentar. Mas ele fazia isso na vida também. Ele fazia amigos e falava com pessoas esquisitas e realmente mergulhava nas experiências. Ele sempre dava as pessoas o benefício da dúvida.
 
“Eu sou um pouco mais reservado que isso. Eu acho que eu me preocupava frequentemente sobre ele não ter barreiras. E isso as vezes se voltava contra ele. Chester fazia amizade com alguém e a pessoa acabava sendo um idiota por qualquer que fosse o motivo. Ele acabava reclamando sobre isso depois e eu ria dele. Ele perguntava, “Por que você não viu isso chegando? Você deveria me dizer que isso é uma má ideia!”
 
“Ele era tão generoso. As vezes eu acho que Chester sentia que ele iria salvar o mundo ao salvar animais um de cada vez. Você podia ver na casa dele, ele adotava tantos animais. Ele tinha cachorros e gatos; ele tinha um gato anão, cabras e galinhas e todos os tipos de bichos. Era engraçado porque ele chegava à um ponto onde isso iria fazer a vida dele mais difícil. Ele reclamava sobre isso, mas ele reclamava das coisas que eram benignas.
 
“Ele fazia doações para um hospital infantil no Arizona e ele voou até lá para conhecer todo mundo. Ele andava pelos quartos. Ele conhecia toda a equipe e ele fazia o evento de gala deles todos os anos. Ele também dava suporte a outras pessoas de formas emotivas, sempre que estivessem precisando. Eu ouvi tantas histórias de amigos nos últimos três meses – alguns deles estiveram em bandas – e eles me contaram como quando estavam em um ponto baixo, ou que também estavam sofrendo de depressão ou dependências. Eles ligavam para o Chester, quase como um conselheiro, ou como um bom amigo, e ele ajudava eles a melhorarem.
 
“Uma coisa que nós conversávamos muito era sobre o seu amor pela família. Ele amava profundamente a sua esposa e todos os seus filhos. A família dele é realmente complicada em termos de sangue, relacionamentos, adoções e tudo mais. Eu passei mais tempo com Chester do que com qualquer outra pessoa na minha vida de adulto, com exceção da minha esposa. Nós éramos como irmãos, mas diferente pois irmãos são ligados pelo sangue. Nós tecnicamente éramos caras em uma banda que poderiam se separar e se distanciar um do outro se nós quiséssemos. O que eu acho mais incrível é que nunca quisemos fazer isso.
 
“Quando nós estávamos juntos, o que era praticamente o tempo todo na estrada, nós íamos juntos no avião. Nós estávamos juntos no carro da ida e na volta de cada show. Nos últimos anos era sempre eu e ele, toda vez. E todo dia ele falava sobre a sua família. Todo dia nós mostrávamos um ao outro fotos dos nossos filhos, ou das nossas esposas, e conversávamos sobre o que elas tinham feito, comemorado, dando risada, reclamando. Eu não sou um pai perfeito, ninguém é, mas Chester tinhas as melhores intenções. Ele tinha um coração tão grande e ele amava a sua família mais que tudo.
 
“Eu sei que ele trabalhava muito para fazer o que ele fazia. Ele acordava de manhã e passava um tempo com a sua família. Ele malhava por duas horas. Ele ia a reuniões do AA, ou terapia, ou o que quer que ajudasse essa parte do seu cérebro. Ele aquecia a sua voz. Ele fazia todas essas coisas apenas para existir em cada dia da sua vida. Ele fazia tudo isso todos os dias apenas para chegar na linha de início; para estar no mesmo lugar que todo mundo. Eu sei que ele trabalhava muito duro para ser o cara que todo mundo via, não era nada fácil para ele.
 
“Eu não acho que Chester algum dia imaginou o tipo de suporte e de conexão que a comunidade do LP mostrou desde o falecimento dele. Sempre foi assim, mas parece que o falecimento do Chester deixou isso em evidência. É uma pena que ele não pode ver isso, e que a comunidade e os fãs do Linkin Park não são como nenhuma outra. Eu vi um vídeo semana passada que foi feito por fãs, onde cada pessoa estava segurando uma placa com uma escrita. Quando você junta todas, tem uma mensagem, especificamente sobre o show no Hollywood Bowl. Dizia coisas como ‘Talvez vocês se sintam nervosos em subir ao palco, e isso pode ser esmagador, mas nós queremos que vocês cinco saibam que nós do mundo todo damos suporte a vocês.’ Esse vídeo tem sete minutos. Tem centenas de fãs, deve ter levado semanas, se não meses, para compilar e editar tudo. Eu não tenho ideia de como eles fizeram isso.
 
“Antes do show, levou semanas para alguns dos caras poderem ouvir alguma música com a voz do Chester nela. A ideia de subir ao palco e tocar elas sem ele era mais que assustadora. Uma esperança que eu tinha é que o show iria ajudar não apenas a banda, como também os fãs – a comunidade do Linkin Park que está sofrendo, nós não queríamos que fosse um show triste. Nós queríamos passar a noite refletindo sobre Chester, sobre a banda e sobre toda a comunidade e cultura do LP ao redor do mundo. Há também fãs que estão lutando contra a depressão e pensamentos suicidas. Quando alguém como Chester morre de suicídio, atinge esses fãs muito intensivamente. Eu quero que o show inspire eles a chegar nas pessoas amadas, ou pedir uma ajuda profissional. Eu quero que eles estejam aqui amanhã e no dia seguinte.
 
“Nós faremos qualquer coisa para fazer o Chester orgulhoso e carregar o seu legado.
 
“E nós sentimos muito a falta dele.”